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A moda é ser consciente!


Por Carla Furtado


Movimentos e marcas criam alternativas para continuar vestindo bem sem deixar de lado a responsabilidade ambiental e social


Todo mundo quer estar bem e bonito na foto e para muitas pessoas, se vestir de acordo com a moda é muito mais que tendência. Mas será que para isso é preciso um consumo desenfreado e inconsciente? E estar bonito e estiloso significa seguir um único padrão?


Os dados são de deixar qualquer blogueira bege: para fazer 1 calça jeans, são necessários mais de 10 mil litros de água; para lucrar com um saldão de roupas por R$10, é provável que haja trabalho escravo nesse processo; enquanto o solo em que se produz algodão convencional fica inutilizado depois do plantio, toneladas e toneladas de sobras de tecido são jogadas fora todos os dias. A realidade é dura, mas novos movimentos têm surgido para fazer com que os viciados em moda coloquem os pés no chão.



Como as roupas são feitas?

Para fazer compras com confiança e sem peso na consciência, vale conferir as organizações que mapeiam as marcas que fabricam suas roupas com responsabilidade social e ambiental. O Fashion Revolution é um movimento internacional, pioneiro no assunto, que incentiva o consumidor a conhecer a origem de suas roupas, criando assim envolvimento em todo o processo. A organização também promove encontros entre a comunidade engajada na causa, como o Fashion Revolution Week.


A representante do movimento em Goiás, Luciana Nunes, é fundadora do Lucid Bag, um guarda-roupa coletivo compartilhado, uma das soluções encontradas para conter o consumismo sem abrir mão de ter uma novidade no look. O guarda-roupa é itinerante e presente em eventos e feiras de moda consciente, que são informados através das redes sociais do projeto. Por R$20 você pode pegar uma peça de roupa, ficar com ela por uma semana, e então devolver no mesmo local.

Se a ordem é reutilizar, a Insecta Shoes está na crista da onda. A empresa produz sapatos veganos com solas feitas de borracha excedente da indústria calçadista. Em dois anos, a marcar já reutilizou o equivalente a 1000 garrafas PET. “Nosso público é composto por pessoas com uma consciência e preocupação ambiental já um pouco mais evoluída. Esta não é uma moda passageira, é um movimento em constante crescimento”, conta Barbara Mattivy, uma das fundadoras do Insecta.


Por quem as roupas são feitas?

O foco da Panosocial está além do produto final. A política de contratação de seus funcionários está focada em colaborar na luta contra a desigualdade social. Para fazer suas camisetas de algodão orgânico e de tingimento natural, a marca contrata apenas ex-presidiários.


“Quando cheguei ao Brasil, fiquei inconformado com as condições sociais. Ao conhecer de perto o sistema carcerário e saber que 70% dos crimes são cometidos por reincidência criminal, veio a ideia de combinar a contratação de ex-detentos com a produção sustentável. Isso também com o intuito de mostrar para a sociedade que um ex-detento não é necessariamente uma pessoa perigosa, e que esse preconceito é contraprodutivo para a construção de uma sociedade pacífica e igualitária”, explica o austríaco Gerfried Gaulhofer, co-fundador da Panosocial.


Wellington Galdino, que trabalha na confecção da Panosocial, em campanha da Fashion Revolution Brasil


O respeito pela mão de obra também está presente na filosofia da marca Dresscoração, da modelo e estilista Loo Nascimento. “Tenho uma produção pequena, as próprias costureiras estabelecem quanto vale o trabalho delas e eu faço o pagamento dessa maneira. Acho isso muito justo, afinal quem trabalha é quem sabe quanto vale o seu esforço. Elas são as deusas da coisa toda”, conta Loo.


Para quem as roupas são feitas?

Neste processo de conscientização, a comunicação também tem um papel central. A marca Dresscoração surgiu do blog de mesmo nome, um espaço que a estilista usava para abordar a representatividade de mulheres negras e fora do padrão tradicional de beleza. Hoje os textos são compartilhados via newsletter (para se inscrever, é só deixar o e-mail no fim da página do site).


A marca não troca de coleção conforme as estações, prática usada pelo movimento slow fashion (“moda lenta”, uma abordagem do consumo consciente). Não há regra para novos lançamentos, isso acontece de acordo com o fim do estoque e a criação de novas peças, que vão se mesclando com as antigas sem a necessidade de uma troca definitiva.


A segmentação por gênero também entra nos tópicos de observação para a nova moda. Assim como na Panosocial, os produtos da Insecta são unissex, uma tendência que aos poucos tem ficado mais frequente. Um território que já foi um tanto hostil para a diversidade, hoje os caminhos da moda mostram que o mesmo ambiente tem grande potencial para virar esse jogo. “Roupas são nossa maior expressão pessoal, elas se tornam uma mensagem que passamos sem precisar abrir a boca”, acredita Loo.

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