Pesquisas mostram avanços no número de mulheres empreendedoras e ocupando cargos de liderança, mas rendimento financeiro continua abaixo da média dos homens. Entenda quais são as perspectivas para o empreendedorismo feminino e como redes de apoio estão trabalhando para superar obstáculos que ainda existem, através de trabalhos como o de Ana Fontes, fundadora do Rede Mulher Empreendedora.
No Brasil, o empreendedorismo feminino tem mostrado força e está colaborando com a promoção da igualdade no país. Segundo um estudo realizado pelo Mckinsey Global Institute, a igualdade de gênero no ambiente profissional pode desenvolver cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Em 2019 uma pesquisa feita pelo Global Entreipreneurship Monitor e publicada pelo SEBRAE apontou que há uma conexão direta do avanço econômico do País com a ação empreendedora de mulheres.
Além disso, muitas destas empreendedoras estão focando em gerar renda, soluções e oportunidades para outras mulheres, colaborando com o crescimento de novas empresas geridas por lideranças femininas.
A pesquisa também aponta que, com base em dados de 2018, mulheres empreendedoras estão ocupando 16% a mais cadeiras em instituições profissionalizantes do que os homens, dedicando cerca de 9,9 anos de suas vidas para o avanço de suas carreiras. Porém, um dado mostra que o cenário ainda não é o ideal, pois mesmo com todos estes pontos a média de rendimento mensal das empresárias é 22% menor que a de homens donos de empresas.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o número de mulheres empreendedoras tem crescido significativamente. Em todo o mundo, elas estão assumindo papéis cada vez mais ativos na economia e na sociedade. Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado como um dos países com o maior número de mulheres empreendedoras.
A pandemia de COVID-19 trouxe muitos obstáculos para estas empresárias, porém, muitas encontraram saídas para continuar empreendendo, pois de acordo com o relatório Global Gender Gap Report 2022, do Fórum Econômico Mundial (FEM), O percentual de mulheres brasileiras liderando seu próprio negócio cresceu 41% entre 2019 e 2020, na fase mais crítica da crise sanitária. Já para os homens, a alta foi de 22%.
Esses dados são apoiados por outro levantamento feito pelo Linkedin. Segundo a plataforma, entre 22 países analisados pelo algoritmo, houve um aumento de 45% nos perfis femininos que passaram a se identificar como empreendedoras. Embora ainda existam algumas barreiras para o empreendedorismo feminino, como a falta de acesso a capital e às redes de apoio, o número de mulheres que optam por serem donas de seu próprio negócio está criando um impacto significativo na economia global.
Avanços no sentimento de igualdade de gênero.
O novo relatório, lançado dia 7 de setembro pela ONU Mulheres e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN DESA), destaca que, no ritmo atual de progresso, o ODS 5 – alcançar a igualdade de gênero – não será cumprido até 2030. O relatório alerta para o futuro desse objetivo nas próximas décadas.
No ritmo atual de progresso, a ONU estima que levará até 286 anos para fechar as lacunas na proteção legal e remover as leis discriminatórias, 140 anos para que as mulheres sejam representadas igualmente em posições de poder e liderança no local de trabalho e pelo menos 40 anos para alcançar a igualdade de representação nos parlamentos nacionais.
No Brasil, mesmo a passos lentos, houveram algumas conquistas importantes na discussão sobre a desigualdade de gênero. A Lei Maria da Penha (13.438/11), que tornou o crime de violência doméstica contra mulheres um tipo penal à parte, é um exemplo dessa mudança.
No entanto, apesar dos avanços legislativos, ainda há muito a ser feito para diminuir as desigualdades entre homens e mulheres no País. Uma das formas de contribuir para essa diminuição é o empreendedorismo feminino. Esse movimento é importante porque aumenta a representatividade das mulheres no mercado de trabalho, além de contribuir para o crescimento da economia nacional e para a redução da pobreza.
No entanto, é preciso criar mais condições para que as mulheres alcancem seus objetivos profissionais, como melhorias nos cuidados com a família, acesso a educação de qualidade, inclusão no mercado de trabalho e acesso a bons empregos.
Importância das redes de apoio
Na trilha para continuar a avançar nesse contexto da mulher empreendedora, temos exemplos de ações que estão colaborando com isso e seguem sem descanso na luta por mais espaço feminino no empreendedorismo. Um exemplo de mulher que está nessa frente de apoio é a Ana Fontes, empreendedora Social, fundadora da RME - Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME, eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes em 2019.
Na edição do Path Amazônia, em 2021, tivemos a honra de sua participação em uma palestra sobre geração de renda e inclusão social das mulheres através do empreendedorismo feminino. Ana Fontes mostra que quando se investe em mulheres, elas podem melhorar o mundo.
Em 2010, ela conta que foi selecionada para participar de um programa de apoio à mulheres que empreendiam, organizado pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV). No primeiro dia de aula ela descobriu que estava entre as 35 mulheres selecionadas, dentre mais de 1000 candidatas que se inscreveram para o programa.
Essa informação foi para Ana Fontes um gatilho que levou ela a pensar sobre a situação destas pequenas empresárias, sobre o que aconteceria com estas mulheres que não tiveram a mesma oportunidade que ela.
“Quando eu tive estas descobertas e andei por essa jornada, não era uma época em que as pessoas falavam destas temáticas, a primeira e maior causa que eu descobri na época foi a causa das mulheres, eu digitava no google sobre mulheres e empreendedorismo, ou mulheres e diversidade e não encontrava nada”, conta Ana Fontes.
A partir disso ela constatou que não tinha ninguém falando sobre estas empreendedoras, mas ao mesmo tempo percebeu que havia a possibilidade de mobilizar algo em prol destas mulheres. “Eu descobri que era possível se mobilizar, criar um projeto ou uma ação sem ter recursos”, relembra a empresária.
Após esse movimento ela também percebeu a oportunidade de criar conexões e avançar no tema através de uma rede de apoio e destacou a fundação da Rede Mulheres Empreendedoras. “As pessoas gostam de colaborar e a existência da rede há onze anos é a mais clara definição disso.
A RME foi fundada em 2010, e desde então apoia, conecta e desenvolve mulheres empreendedoras, sendo a primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil, contando hoje com 300 mil mulheres engajadas.
A palestra completa de Ana Fontes pode ser vista clicando abaixo em nossa plataforma de streaming. Aproveite para assistir essa e muitas outras conversas, palestras e documentários exclusivos disponíveis em nossa plataforma.
Sociedade machista como barreira
Em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita em 2020, 12,9 milhões de brasileiros estavam à procura de emprego, dentro desse número a taxa de mulheres sem trabalho foi de 16,2%, muito maior do que a média nacional de homens que chegava a 11%.
Em agosto, 12,9 milhões de brasileiros estavam na fila do desemprego e a taxa de mulheres sem trabalho é de 16,2% – maior que a média nacional de 14,4% e que a taxa de homens, de 11,7%. Um dos principais motivos para essa porcentagem de desempregadas está na maternidade. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o número de mulheres que trabalham cai de 60% para 45% nos primeiros seis meses de vida do bebê.
A maioria das empresas é liderada por homens e as mulheres são sub representadas na maioria das indústrias. Isso pode ser uma barreira para aquelas que desejam empreender, pois são quem enfrentam um ambiente hostil e competitivo, onde os homens ainda têm mais vantagens. Por isso trabalhos como o de Ana Fontes são tão importantes no apoio ao empreendedorismo feminino.
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