O professor e pesquisador, Guilherme Longo, apresenta um panorama dos recifes brasileiros e a urgência de sua regeneração com base em um passado recente desse ecossistema.
Em junho desse ano o Comitê do Patrimônio Mundial recomendou que a Grande Barreira de Corais da Austrália, um dos recifes mais diversificados do mundo, fosse incluída em uma lista do patrimônio mundial em perigo, a recomendação surgiu a partir de um relatório preliminar divulgado em junho pelo comitê, despertando a urgência sobre o tema.
A necessidade de uma relação sustentável com os recifes e seu ecossistema em todo mundo é tema de uma conversa do professor e pesquisador, Guilherme Longo, que trabalha no Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A pesquisa de Guilherme tem focado nos impactos das mudanças globais sobre os recifes brasileiros e, através da plataforma #DeOlhoNosCorais, tem difundido seu processo científico. No Brasil, o tema é tão urgente quanto a crise que envolve o desmatamento e as queimadas na floresta amazônica, Guilherme acha que é possível fazer uma analogia entre o que ocorre nos dois ambientes.
De acordo com o professor, os recifes são como uma grande floresta, as árvores são como os corais no mar, ambos dão estrutura para o seu ambiente, agregando uma imensidão de seres vivos. “Se árvores são queimadas ou devastadas, junto perdemos toda a biodiversidade desse ambiente, com os recifes é igual, se os corais são prejudicados, a biodiversidade associada a eles também é.”, explica Guilherme Longo.
Para se ter uma ideia do tamanho e importância dos recifes, 25% das espécies marinhas existentes são encontradas em ambientes recifais, mesmo esses ocupando uma área oceânica de 0.1%. “Gosto bastante dessa analogia de que os recifes são como florestas tropicais dos oceanos, quando a gente pensa no recife a gente está pensando em uma Amazônia embaixo da água, uma Amazônia Azul, cheia de diversidade e benefícios para a gente.”, conta Guilherme.
Quando olhamos para nossos corais, principalmente no nordeste brasileiro, vemos que os recifes mudaram de cor por conta da onda de calor que causou um efeito de branqueamento dos recifes. “Quando vamos para os oceanos a aparente calma que se esconde por baixo das águas claras do nordeste do Brasil, esconde também alguns problemas que ficam muito menos evidentes.”, conta Guilherme.
Os corais fazem uma associação com uma microalga que vive no tecido deles, as zooxantelas, dando a coloração ao coral, quando o clima fica muito quente o coral expulsa as zooxantelas o tecido fica transparente e a gente consegue ver o esqueleto branco do coral.
Segundo Guilherme Longo, o problema do branqueamento é que quando temos corais saudáveis temos muitos peixes e biodiversidade associada, com isso ganhamos mais benefícios. “Quando temos os corais branqueados, temos muito menos benefícios e biodiversidade, além de ter a grande chance destes corais serem mortos e são eles os grandes formadores de recifes.” completa Guilherme.
Resgatando o passado dos corais para regenerar o futuro dos recifes
As espécies de corais encontradas no Brasil são únicas e só encontradas em nossas águas, visitar um recife é como se encontrar com um local histórico, pois essas estruturas estavam aqui há séculos. O encanto que a beleza dos recifes causa nas pessoas influencia no turismo desses locais e na economia da região, se tornando alimento e fonte de renda para moradores.
Para Guilherme Longo, esse encanto nos afasta da ideia de que somos conectados com os oceanos, nos fazendo esquecer que podemos ter impactos positivos e negativos.“Quando a gente destrói um recife estamos perdendo toda essa potencialidade que esses ambientes nos trazem.”, conta o professor.
A crise climática é muito sentida em ambientes terrestres, já no ambiente marinho não conseguimos sentir essa onda de calor, pois poucos de nós estamos todos os dias dentro da água para sentir que ela esquentou, mas sim, ela está aquecendo. Com a água mais quente fica mais difícil para os seres vivos sobreviverem, eles também têm uma tolerância contra o calor e a água fica sem oxigênio.
O gás carbônico da atmosfera é incorporado pela água do mar, pois o ar interage com a água em uma relação entre oceano e atmosfera, o carbono acaba entrando na água do mar causando reações químicas que geram o ácido carbônico.
Muitos bichos precisam fazer suas carapaças, conchas e esqueletos com materiais conhecidos como bicarbonato de cálcio e a água mais ácida prejudica a formação deste material, podendo até dissolvê-lo. “Estamos tornando os oceanos mais quentes, mais ácidos e sem oxigênio, dificultando a diversidade marinha.”, explica Guilherme.
Através de uma linha do tempo, pesquisadores como o Guilherme Longo, estão montando o quebra-cabeça que envolve toda a complexidade dos recifes para ajudar eles a serem preservados. Essa pesquisa está resgatando o passado dos recifes, fazendo um paralelo com o presente e analisando o futuro deles. “Recuperar esse passado é importante porque há centenas de anos atrás esses recifes estavam em uma condição de saúde melhor e é lá que a gente deve mirar, em um ambiente mais saudável, porque ter mais diversidade é ter mais benefícios.”, explica Guilherme.
O papo com o professor Guilherme Longo poderá ser visto na íntegra nos dias 30 e 31 de outubro no Path Amazônia. Convidamos pessoas de diversas áreas para nos ajudarem a dar luz a assuntos como saúde e bem estar, meio ambiente, consumo consciente, alimento, energia limpa, empoderamento social, economia, povos tradicionais e etc.
Todo esse conteúdo tem como base os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, adotados por Estados-Membros das Nações Unidas que se comprometeram a seguir uma agenda até 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, fornecendo um plano compartilhado para a paz e prosperidade das pessoas e do planeta, agora e no futuro.
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