Por Marília Passos
O uso de produtos químicos para o controle de pragas em plantações tem sido com visto cada vez mais com maus olhos, tanto entre ambientalistas quanto entre defensores de uma alimentação mais natural. A polêmica sobre o uso de agrotóxicos levanta questões sobre como manter a produtividade do setor responsável por mais de 30% do PIB nacional e, felizmente, encontra respostas entre pesquisadores do AgTech Valley de Piracicaba — núcleo de empresas e universidades focado no desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira.
“Os mais preocupados em que tudo isso seja sustentável, seja ecologicamente correto, somos nós que estamos dentro do negócio,” explica Mateus Mondin, Professor Doutor do Departamento de Genética da ESALQ-USP e Idealizador do AgTech Valley — Vale do Piracicaba.
No Festival Path 2017, Mondin, Bettina Barros, repórter do Valor Econômico, Marcelo Polleti, Sócio Fundador e CEO da Promip Holding S/A, Alexandre De Sene Pinto, Sócio e diretor de P&D da BUG Agentes Biológicos, e entusiastas do agronegócio sentaram para discutir o uso de insetos como alternativa ao agrotóxicos.
Um dos destaques entre esses insetos são as vespas da BUG Agentes Biológicosusadas contra percevejos-praga em plantações de milho e soja desde 2013, quando o inseticida mais usado pela indústria foi banido pela ANVISA por conta de seu potencial toxicológico. A empresa foi considerada uma das mais inovadoras do mundo em 2012 pela revista Fast Company, ficando em 33º no ranking global e em primeiro entre as brasileiras.
A Telenomus podisi apresenta uma eficácia de 80% no controle da praga, custos menores e um futuro promissor, abrindo caminho para que outras insetos da fauna brasileira se tornam aliados da agricultura, da economia e da saúde.
Conversamos com Mondin para entender um pouco mais sobre como esses bichos estão mudando a cara do agronegócio no Brasil.
A ideia de usar insetos para ajudar na agricultura é nova?
É uma coisa bastante antiga. O Alexandre De Sene Pinto sempre fala nas apresentações dele que a história do uso de insetos no controle biológico tem mais de dois mil anos. Então, na verdade, o que aconteceu nos últimos anos foi uma ciência muito intensiva em cima dos insetos que permitiu utilizá-los efetivamente como tecnologia. Sair da questão empírica, do uso tradicional para um uso mais científico.
Quais são alguns exemplos de usos desses animais?
O que o uso dessas tecnologias faz é reduzir a quantidade de agroquímicos que nós utilizamos. Óbvio que nós sabemos que esses produtos [químicos] são importantes para a produção dos alimentos, mas sabemos também que eles agridem a natureza, a agridem a saúde humana. O uso dessa tecnologia faz com que a gente utilize muito menos, não signifique a gente deixe de utilizar, mas a gente utilize absurdamente menos. Ou seja, a gente consegue entregar para o consumidor um produto com muito mais qualidade, com muito menos impacto ambiental, com muito menos impacto à saúde porque ele contém menos resíduos.
Aumentar a demanda desses insetos pode gerar algum desequilíbrio?
Pouco provável! Eles são desenvolvidos de uma forma muito específica e muito pontual. Para cada inseto você vai ter um determinado predador. Evita-se ao máximo se trazer insetos exóticos para dentro do Brasil. Nós temos uma diversidade incrível, nós temos pessoas estudando biodiversidade, especialmente lá dentro da ESALQ e olhando para essa diversidade de uma forma prática. Como é que eu posso utilizar esses insetos que já são do nosso ambiente, que fazem parte do nosso ecossistema para essa finalidade tecnológica. Então, pouco provavelmente a gente corre esse tipo de risco.
"A Promip é outra empresa nascida no AgTech Valley de Piracicaba e desenvolve produtos biológicos para controle de pragas."
Podemos usa os insetos em outras áreas além da agricultura?
Sim, diversas. A BUG está desenvolvendo fungos que atacam ou causam doença em pernilongo, no Aedes Aegypti especificamente. O que é isso? Você desenvolve um determinado fungo, libera ele no ambiente — ele é muito específico, ele não vai crescer em outro substrato que não o pernilongo — então ele vai atacar o pernilongo. É uma das perspectivas futuras aí. Eles já estão trabalhando nisso. Já têm tido resultados positivos. Então eu acredito que logo logo vamos trazer muitas coisas para dentro da área urbana. É que realmente o ambiente rural tem uma demanda muito grande. E a gente ainda não consegue atender toda essa demanda. Por isso é importante ter mais mais empreendedores, mais pessoas vindo participar com a gente, conhecer o que é agro. Porque às vezes a gente que o agro é algo que fica específico à fazenda. Não é. Tem muito agro dentro da cidade.
Você acha que as pessoas estão mais abertas para isso?
Eu acho que tem melhorado, as pessoas desconhecem muito o que o mundo agro. Ainda existe uma mística sobre o que é esse mundo. Meu convite é para que as pessoas possam ir conhecer o que é o agro antes de criticar ou antes de tomar uma postura ou uma decisão. Os mais preocupados em que tudo isso seja sustentável, seja ecologicamente correto, somos nós que estamos dentro do negócio. Então que essas pessoas venham conversar com a gente, venham entender o que a gente faz, porque o que a gente quer é o melhor para toda sociedade.
Para conhecer o agro:
AgTech Valley Projeto idealizado por Mondin, Sérgio Marcus Barbosa, gerente executivo da EsalqTec e José Augusto Tomé, da CanaTec Coworking, para consolidar o Vale de Piracicaba como polo tecnologia voltado ao agronegócio. “É o maior ecossistema de empreendedorismo hoje no Brasil, na América Latina. Um dos maiores do mundo.”
StartAgro Plataforma de conteúdo destinada a divulgar o agronegócio brasileiro e mundial. “Nós somos a plataforma de tecnologia. E eles divulgam a tecnologia. Então sem dúvida nenhuma, nós temos uma rede bastante pro-ativa, pessoas bastante envolvidas, bastante engajadas porque nós sabemos o potencial daquilo que fazemos.”
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