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Mulheres na liderança das pautas dos povos originários

Entenda os obstáculos enfrentados e os caminhos a percorrer por parte das mulheres indígenas que lideram a luta por direitos, territórios e preservação de sua cultura ancestral. Também acompanhe uma conversa que ocorreu no último Path sobre o tema .


Os obstáculos para a implementação de um desenvolvimento sustentável para os indígenas têm sido persistentes, resultando em altos níveis de pobreza, segregação e exclusão social. Alguns dos principais desafios que os indígenas enfrentam para buscar o crescimento sustentável é a questão do uso da terra e intervenção externa em suas tradições culturais.


Desenvolvimento sustentável é um modelo de crescimento econômico que tem como objetivo o bem-estar social, a proteção do meio ambiente e a geração de riqueza. Para atingir esse modelo de crescimento, é preciso considerar as diferenças sociais, culturais e ambientais.


As dificuldades enfrentadas pelos povos originários são inúmeras. Vão desde questões históricas, como o genocídio que sofreram durante a colonização, até problemas ambientais, como a destruição da Floresta Amazônica. Diversos povos ainda enfrentam obstáculos para alcançar o desenvolvimento sustentável.


Estes problemas estão incluídos como fatores importantes na questão dos 17 ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), baseados na Agenda 2030. Abrangendo os temas mais importantes para o desenvolvimento sustentável, como educação, igualdade de gênero, saúde, energia limpa e meio ambiente.


Segundo a ONU, responsável pelos ODS, mesmo com os povos originários ocupando cerca de 80% da biodiversidade de todo o planeta, muitos deles ainda lutam para manter seus direitos legais a terras e seus recursos.


Fato que não está somente ligado à acontecimentos recentes no Brasil. Ocorrem no mundo todo, onde povos originários na América do Norte, América Latina, África e etc, ainda morrem por defenderem suas causas.


Relatório Das Nações Unidas sobre a causa indígena no mundo


Através de dados revelados por um estudo feito pela ONU, foi possível compreender melhor esse cenário, com uma análise sobre os desafios que estas comunidades encontram diariamente. O relatório foi elaborado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA) da ONU.


O relatório concluiu através de recomendações, que os estados devem incluir imediatamente o reconhecimento dos direitos tradicionais das pessoas indígenas, assim como reconhecer suas terras e garantir o uso dos recursos da mesma.


Essa garantia deve favorecer o desenvolvimento das tradições culturais de forma sustentável a partir da ótica dos povos originários. Além disso, a falta de dados sobre estas comunidades e seus territórios é um outro problema que precisa ser enfrentado pelos governos.

Regeneração a partir do olhar da ancestralidade indígena.



A ótica dos problemas precisa surgir do lado das comunidades indígenas e não apenas do estado, essa integração precisa respeitar a visão regenerativa dos povos originários para com seus territórios. No Path Amazônia 2021, tivemos uma conversa que tocou de forma profunda nesse tema.


No bate-papo, foi desenvolvida uma cosmovisão das mulheres indígenas, mediada por Maní Inu. Ela conversou com Cris Pankararu, liderança da Marcha das Mulheres Indígenas, Edina Shanenawa,vice-coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB) e Mukani Shanenawa, pajé medicinal e espiritual.


“Nossa história realmente não começa agora, é de resistência secular, a gente lida com cuidado, atento a tudo desde o que está em nossa volta, dentro de casa, fora de casa e a partir desse cuidado e desse olhar para alimentação, para os rezos, porque nossa força vem dessa espiritualidade conexão com donos e donas das matas, das águas, dos animais, porque não somos donos de nada”, explica Cris Pankararu.


A forma como os povos originários zelam pelo bioma que os cercam, para Pankararu, mostra o respeito pelo passado e futuro em todos os sentidos. ”A gente procura cuidar, zelar e manter (a floresta e cultura) para as futuras gerações e em respeito àquelas e aqueles que nos antecederam, pois nossa luta de re-existência é isso, manutenção de tradição e cultura através de cuidados”, completa.



Marcha das Mulheres Indígenas e lideranças femininas ativas


Uma das formas de manter a força pela preservação de territórios e tradições, está em atos públicos que vêm sendo organizados nos últimos anos e dão corpo à resistência dos povos originários.


Um deles é a Marcha das Mulheres Indígenas, que luta pelos direitos das mulheres indígenas com o objetivo de denunciar a violência contra elas. Principalmente as que vivem nas comunidades tradicionais e/ou quilombolas, além de reivindicar os direitos dessas mulheres à terra, à educação, à saúde e à liberdade.


Desde os primeiros dias da colonização, as mulheres indígenas foram subjugadas e oprimidas. Foram consideradas inferiores pelos colonizadores e isso se reflete até hoje na sociedade brasileira. Apesar de todas as adversidades, as mulheres indígenas lutam para manter sua cultura e identidade e têm conquistado espaços significativos.


A Marcha das Mulheres Indígenas é um exemplo disso. Realizada anualmente em Brasília, ela reúne mulheres de todo o país para exigir o respeito aos seus direitos. Além disso, a marcha é uma forma de afirmar a cultura indígena e mostrar que as mulheres são protagonistas na luta pela igualdade e justiça social.


Mulheres indígenas como frente de luta


Obviamente pelo nome dado à marcha, as mulheres são as principais lideranças dessa luta, que ganhou destaque nos últimos anos. Desde então, o movimento tem crescido e se firmado como uma importante voz na luta pelos direitos das mulheres indígenas.


Mas não é somente a marcha que dá voz a estas mulheres e à causa indígena como um todo. Existem diversos outros movimentos que estão agindo neste exato momento para dar voz à resistência destas mulheres. Entre eles está a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira – UMIAB. Na conversa entre as lideranças no Path, a vice coordenadora da UMIAB, Edina Shanenawa, explica a importância do território como foco dessa luta.


“Hoje, a mulher indígena sai para a cidade atrás de algo melhor para sua comunidade, lá na aldeia, em nosso território, é onde estão nossas raízes, nossa família, a terra, para nós mulheres indígenas, é quem dá a vida para nós, assim como nós também geramos a vida, então, por isso a terra é sagrada.”, explica Shanenawa.


Na questão das mudanças climáticas, a líder indígena também destaca que foram as mulheres que perceberam de imediato a urgência do tema. “As mulheres indígenas foram as primeiras que sentiram as mudanças dentro de nosso território, pois são as que saem para trabalhar e plantar junto aos filhos.”, conta.


As terras indígenas representam cerca de 12% do território nacional e são fundamentais para a manutenção da biodiversidade do país. Além disso, elas abrigam comunidades tradicionais que têm um modo de vida sustentável há milhares de anos. Infelizmente, as terras indígenas no Brasil estão ameaçadas pelo desenvolvimento econômico. O desmatamento e a mineração são os principais perigos para estes territórios.


Em fevereiro de 2022, a Amazônia Legal registrou o maior acumulado de alertas de desmatamento para o mês desde 2016.

Importância de se reconectar com a ancestralidade indígena

Desde os primórdios das civilizações e na visão dos povos originários, as mulheres indígenas têm sido consideradas seres sagrados. Elas são responsáveis pela vida e pelo equilíbrio dos ambientes naturais. São elas que dão continuidade às tradições e conhecimentos ancestrais.


As mulheres indígenas estão em constante luta para preservar suas terras e sua forma de vida. Muitas vezes, isso significa enfrentar o preconceito, a violência e a discriminação. A marcha das mulheres indígenas é uma forma de expressar seu orgulho e luta pelos direitos dessa importante parte da população brasileira.


A marcha das mulheres indígenas também é uma forma de reconectar-se com a ancestralidade. Sobre essa conexão, a Pajé medicinal e espiritual, Mukani Shanenawa, que também esteve nesta conversa no Path, é muito assertiva ao destacar um histórico da participação de mulheres na cultura indígena medicinal, que só no último século começaram a ser reconhecidas.


“Desde muito tempo, há décadas que vem todo esse desafio em nossa frente, mas agora vivemos um novo século, em que colocamos para fora o empoderamento feminino, principalmente da cultura indígena, em que muitas das mulheres curandeiras, pajés de nosso antepassado dominavam esse conhecimento sem poder ajudar as pessoas”, conta Shanenawa.


Essa nova frente de lideranças indígenas está reestruturando a forma como as aldeias se organizam. “Para nós, mulheres indígenas, manter uma árvore viva é manter a nossa própria ancestralidade viva, manter nossa cultura e nosso espirito.”, diz a pajé.



Voz das mulheres indígenas

No ano de 2014, uma metodologia inovadora foi criada para identificar as necessidades e demandas das mulheres nas comunidades indígenas do Brasil. Esse processo ocorreu na embaixada da Noruega, através do coletivo Voz das Mulheres Indígenas e a ONU Mulheres.


Com a iniciativa, um projeto pode colaborar com o desenvolvimento da Agenda Nacional das Mulheres Indígenas contribuindo com a participação delas na busca por políticas e no aperfeiçoamento de conhecimentos sobre direitos humanos e normas relacionadas.


O projeto deu espaço à uma articulação organizada por 23 lideranças femininas indígenas conectando seus aprendizados e suas experiências, assim como a integração entre organizações de diferentes aldeias e regiões. A Marcha das Mulheres Indígenas pode ser considerada uma das ações resultantes deste processo.


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