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O caminho para salvar a Amazônia é pela consciência

Karina Miotto, do Reconexão Amazônia, dá dicas para se conectar com a Amazônia e preservá-la, mesmo estando distante.


Por Carla Furtado

A Floresta Amazônica há muito tempo é seriamente ameaçada, principalmente pelo desmatamento desenfreado que acontece na região, seja de maneira regulamentada ou não. Na última semana, no entanto, os alarmes da preservação ganharam nova urgência com o anúncio de que o presidente Michel Temer decretou a extinção de uma área de reserva na Amazônia de 46.450 km², visando a exploração mineral do local, que possui reservas de ouro, ferro e cobre.


Na manhã desta quinta feira, Michel Temer declarou que "o decreto que extinguiu reserva na região amazônica apenas regulariza a exploração mineral feita na região", o que ainda assim não muda o quadro anunciado.


Enquanto a população se movimenta com abaixo-assinados e hashtags nas redes sociais, a sensação de impotência é grande. Afinal, o que mais pode ser feito? Foi esse questionamento que levou Karina Miotto a encarar a causa amazônica há 10 anos. Depois de viver por 5 anos na Floresta, trabalhar como jornalista ambiental, e de lutar pela preservação amazônia ao lado do Greenpeace e do Amazon Watch, ela fundou, em 2014, o Reconexão Amazônia, que indica um caminho diferente para a causa.


A neo-ativista percebeu que, no meio de tantas denúncias que são feitas, era necessário um caminho alternativo: falar da alma da Floresta, de seus ensinamentos, belezas e caminhos de estudos que pouco nos são mostrados. Na entrevista abaixo, Karina conta como acredita que o que poderá salvar a Floresta Amazônica é reconectar as pessoas com o coração do planeta Terra, ao invés de apenas martelar sobre toda a destruição que já houve por lá. Ela também dá algumas dicas do que podemos fazer pela Floresta mesmo estando distantes dela:


Karina Miotto na Floresta Amazônica (Reprodução)


Por que e como a Floresta Amazônica chamou sua atenção de uma maneira especial?

Desde pequena, eu olhava as fotos da floresta e lia sobre sua potência, sua beleza, sua riqueza. Quando eu tinha 12 anos, vi pelas velhas enciclopédias o rosto do Chico Mendes. Paralelo a isso, minha família me deu liberdade para brincar na natureza o quanto eu quisesse. Essa combinação fez com que, já desde a infância, eu tivesse curiosidade pela floresta. Daí os anos passaram, esqueci disso, me tornei jornalista da Editora Abril até sentir uma profunda insatisfação. Passei a me perguntar sobre o propósito de ser uma máquina de escrever textos sobre coisas que não tinham nada a ver comigo. E foi em um ritual xamânico, na natureza, com mais de 100 pessoas ao meu lado que me conectei profundamente com a Mãe Terra. Lembrei dos momentos da infância e prometi a mim mesma que dali por diante seria jornalista para ser a voz de quem não tem voz: dos seres não humanos que também habitam este planeta. Em outro ritual xamânico, já há seis meses no caminho do jornalismo ambiental, tive uma visão. Vi uma área enorme de floresta ardendo em chamas. Eu imediatamente senti que via a Amazônia. E, naquele momento, ela me convocou. Senti sua convocação: “VEM. CHEGOU A HORA”. Voltei para casa, chorei uma semana seguida, pedi demissão do meu trabalho e me mudei para Manaus. Morei cinco anos na região Amazônica. Desde que decidi ouvir a voz da floresta no meu coração e seguir o meu caminho (isso já faz dez anos!) tenho vivido um milagre após o outro. Sinto profundamente o apoio do universo nesse trabalho de informar e sensibilizar em relação à floresta, apesar de todas as dificuldades que, diariamente, eu tenho que enfrentar.


Como foi seu primeiro contato com a Floresta Amazônica e o que aprendeu por lá?

Quando me dei conta de que mudaria para Manaus sem nunca ter ido pra lá, caiu minha ficha: “Meu Deus, onde estou indo parar?”. E um dos milagres dessa minha história foi um convite que recebi de uma operadora de viagens, um mês antes da mudança. O convite? Viajar em um navio de luxo por uma semana, partindo de Manaus, para registrar minha experiência na Amazônia. Soltei uma grande gargalhada e entendi que o presente vinha para me acalmar. Era a vida me falando: “calma, vou te mostrar onde você vai se meter”. Nadei com botos, tomei chuva da floresta de boca aberta, para engolir aquela água sagrada. Fiquei em redes ouvindo os trovões e os cantos de pássaros e macacos. Aprendi que a floresta é uma potência de vida. Que ela tem o poder de nos colocar em contato com nossa essência mais profunda. Esse foi meu primeiro contato com a floresta!


Em que momento você percebeu que precisaria mudar o discurso para atrair a atenção das pessoas para a Floresta?

Depois de cinco anos atuando como jornalista ambiental e ambientalista, denunciando, participando de protestos e lutas com o Greenpeace, Amazon Watch e como editora do site o eco, entendi que meus gritos, somados ao de todos os meus colegas que lutavam pela floresta e por seus povos, não estavam sendo ouvidos pela grande maioria da sociedade. Quem mais consome madeira ilegal vinda da Amazônia é São Paulo. O gado representa 65% do desmatamento da floresta e mesmo assim as pessoas ainda comem carne e compram os subprodutos deste animal. Conversando com as pessoas na rua, percebi que poucas são capazes de responder “o que é Amazônia?”. E isso me levou a perceber que o jornalismo e o ativismo que fazíamos chegava em quem já compreendia o quanto é importante proteger a floresta. Precisamos ir além! Um caminho para isso é dar mais espaço para abordar o que dá certo do que o que dá errado. É comunicar com o cuidado de não provocar sentimentos de vergonha, culpa ou impotência em quem nos ouve. Além disso, se fizermos esse ativismo e esse jornalismo com dor e ódio, é isso o que espalharemos, porque palavras têm energia e poder. Compreendi que já é hora de também mostrar o belo da Amazônia, o que dá certo, o que informa e inspira. Sem tocar o coração, nenhuma informação será capaz de provocar qualquer mudança de atitude.


Karina durante sua participação no PlusPlus! São Paulo, evento d'O Panda Criativo (Matheus Matta)


Qual a importância da ciência holística? Você acha que está ficando mais acessível e aceita na sociedade?

A ciência holística propõe um aprofundamento de outras áreas de nosso ser e de nossa maneira de receber, transmitir e sentir a informação. Para além do “pensamento”, que é o foco total e atual da ciência moderna, a ciência holística propõe uma abordagem de complementaridade ao pensar. Ela também sugere o estímulo à “sensação”, aos nossos outros sentidos, à “intuição” e ao “sentimento”. Ela propõe o ensino que passa pela lógica, mas que também oferece a experiência. Precisamos sentir aquilo que falamos. No Brasil, esse conceito é completamente novo. Aprendi e me aprofundei nele durante meu mestrado na Schumacher College. Por aqui, ainda temos muito a caminhar para compreender e integrar a ciência holística na educação. Com o tempo, espero que mais educadores possam compreender a importância do olhar holístico na ciência para questões ligadas à conservação da Amazônia.


Que medidas as pessoas podem tomar em seu cotidiano para evitar maiores estragos ambientais na Amazônia?

1. Por favor, parem ou diminuam o consumo de carne. Além de a pecuária ser a maior responsável pelo desmatamento, ela também é responsável pelo maior número de trabalhadores escravos do país. Se não conseguir parar, diminua. E sempre pergunte-se quanto à procedência da carne, quando a comprar.

2. Apenas compre e utilize madeira certificada.

3. Atenção sobre a procedência da soja que você consome.

4. Participe de petições e ações de ONGs que estão na Amazônia e que lutam por sua proteção.

5. Conscientize-se, de verdade, com a sua alma, do enorme poder da Amazônia. Ela é muito além de uma floresta provedora de recursos naturais a seres humanos. Ela é vida, é complexidade, é alma. É feminina, tem o poder de nos reconectar com nossa essência mais profunda e com o porquê de estarmos aqui na Terra. Não acredite nas bobagens que te contam: que lá é perigoso demais, que você pode ser atacado a qualquer momento por jacarés, piranhas e mosquitos. Não é assim. Se a Amazônia fosse assim tão inóspita, lá não viveriam 24 milhões de pessoas e não teria sobrado mais nenhum indígena, quilombola ou ribeirinho dentro da floresta. Se dê a chance de conhecê-la algum dia, antes que seja tarde demais. Te convido a conhecer o Reconexão Amazônia, a tornar-se apoiador do projeto, a tornar-se mais um amante da floresta, um multiplicador de uma mensagem de proteção, de informação, de conscientização. Ou nos unimos agora pela maior floresta da Terra, ou corremos o risco de perdê-la pelos próximos 40 anos — o que não é NADA, diante dos 55 milhões de sua existência. Está em nossas mãos.


Quer saber mais? Tá fácil! Assista abaixo à palestra na íntegra da Karina Miotto no PlusPlus! São Paulo:



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