Evento de inovação e criatividade quebra frieza de conferências tradicionais promovendo trocas de ideias com repertório rico de atrações
Oportunidades de troca de ideias “olho no olho”, de encontros espontâneos e com pessoas abertas a escutar as outras nunca foram tão raras e, não por acaso, tão almejadas. Imagine um evento em que o objetivo é proporcionar conexões ricas entre as pessoas, e para tanto, une um repertório condizente com os novos tempos através de palestras, shows, filmes, feiras e mais atividades que geram trocas. Essa é a proposta do Festival Path, que terá sua sexta edição nos dias 19 e 20 de maio em diversos pontos do bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Assim como um desfile de escola de samba, o festival leva o ano inteiro para ser feito, sendo a parte mais trabalhosa a curadoria de palestras: são mais de 300 em múltiplos formatos, como falas solo, entrevistas, mesas redondas, sessões literárias e oficinas, contabilizando em torno de 600 palestrantes. Para chegar a este volume sem perder a qualidade, além da curadoria interna d’O Panda Criativo, empresa que realiza o festival, há um time de 22 curadores de diferentes áreas, que vão de empreendedorismo a autoconhecimento.
“Acredito que estamos vivendo a transição da era industrial para a era digital. E por isso, temos novos desafios relacionados a novas formas de pensar, sentir, interpretar e criar. Busquei pessoas que estivessem focadas em experiências que tragam sentido à nossa existência humana dentro desta nova era”, conta a curadora de palestras de comportamento Fernanda Obregon.
O formato de eventos com palestras e bate-papos tem pipocado pelo país, mas o que impressiona no Festival Path é o volume de conteúdo diversificado. A inspiração, inclusive, veio do South by Southwest, evento gigantesco que tem proposta bastante similar e ocupa toda a cidade de Austin, durante 10 dias.
“Quando estive no SXSW em 2013 passava por uma crise profissional. Naqueles dias em Austin, senti que o meu horizonte foi ampliado, na medida em que conheci uma infinidade de projetos e pessoas bacanas, transformando realidades mundo afora. De volta a São Paulo, me senti órfão. Queria estender aquela sensação e fazê-las chegar a mais pessoas. Assim nasceu o Festival Path, que hoje tem vida própria e se consolidou como o maior festival de criatividade do Brasil. Na esteira do Path, muitos festivais de criatividade surgiram, e vemos isso com bons olhos. Estimular conexões e propagar boas ideias nunca é demais”, conta o co-idealizador Rafael Vettori, que também é diretor d’O Panda Criativo.
É possível dizer que a missão de levar ao público a sensação de abertura de horizontes já foi cumprida. O clima no final de um dia de Path, normalmente compartilhado no terraço do prédio do Instituto Tomie Ohtake, onde acontecem os happy hours com shows, é de vislumbre de um futuro promissor. “Achei que o Festival Path te possibilita abrir o seu leque de opções e possibilidades pra vida. Assisti uma palestra que me mostrou que seguir nossos sonhos funciona, e outra em que pessoas que fizeram tudo certo falharam em seus planos e investimentos. É um evento que abre a sua mente, porque os assuntos abordados nem sempre estão em todas as rodas de conversa. Conheci gente nova e reencontrei pessoas que nem imaginava durante o fim de semana ali!”, disse a revisora de textos Evelize Bernardes, sobre a edição de 2017.
Mas nem só de palestras se faz o Festival. Neste ano, uma das novidades são os workshops, feitos para quem quer despertar seu lado artístico: tem de lettering, lambe-lambe, caligrafia com flat pen e stencil. “Todos somos criativos, a questão é onde mora sua criatividade”, afirma o designer Ricardo Tatoo que vai ministrar o aulão de stencil, em que o objetivo maior é fazer deixar o coração e a fluidez mandarem. Aulas de yoga abrem a programação em cada dia, e as feiras (de startups, de games, de foodtrucks, do mundo maker e a Jardim Secreto Fair, de pequenos produtores) fazem parte da programação gratuita.
Diversidade é prioridade
Outra novidade são festas do momento que terão edições especiais no Festival: PratoDoDia, famosa pela curadoria de vinis, Batekoo, que une o público alternativo do funk com maestria, e Gaymada, que faz o nostálgico jogo de queimada com música e descontração, foram as escolhidas para divertir a chamada “Cidade Path”.
“Somos um coletivo independente, que objetiva a tomada dos espaços públicos para retirar os estigmas da comunidade LGBTQ+, e estar em espaços como o Path é aumentar nosso coro de que sim, existimos, e não vamos mais nos esconder; é dar visibilidade para nosso ativismo brincante. O clima de união entre todos que vão lá pra jogar ou ver o jogo é inacreditável. As pessoas se conectam sem mesmo se conhecerem. É lindo de ver!”, conta Lucas Galdino, produtor da Gaymada paulistana.
A busca pela diversidade, causa vestida pelas principais organizações do mundo nos últimos anos, também tem forte presença em cada pilar do evento, como na escolha de monitores. Neste ano, parte deles será selecionada com parceria das ONGs Trans Empregos, de pessoas trans, e MaturiJobs, de pessoas com mais de 60 anos. Os currículos dos selecionados ficará ao alcance do público durante o festival. No ano passado, a mesma iniciativa foi feita em parceria com a ACNUR, que cuida de refugiados.
Ao falar de inovação, o senso-comum logo leva o imaginário ao Vale do Silício, centro criativo da Califórnia, e ao mundo tecnológico de países de primeiro-mundo. Para quebrar esse paradigma e, novamente, abrir os horizontes, a jornalista e empreendedora Monique Evelle montou as palestras de inovação social. “Quando terminei a curadoria e consegui enxergar com mais nitidez o quadro de convidados, percebi que foi possível interferir na homogeneidade de pessoas que costumam frequentar os palcos de eventos sobre inovação. Busquei pessoas que têm trabalhos inovadores de impacto social e que conseguem enxergar os territórios afastados do centro na ótica da abundância e não da escassez. São vozes que são tão valiosas quanto outras, porém silenciadas”, afirma.
Em meio ao vai-e-vém pelas salas de palestras, festas, feiras, happy hours e shows é difícil não interagir, mas para facilitar ainda mais o contato, uma vez por dia acontecem as Conexões Path, uma hora feita para conhecer gente nova, com facilitação do RIA, empresa de desenvolvimento humano que usa como principal ferramenta a improvisação. Outra oportunidade feita exclusivamente para networking são as Conexões Holandesas, também ao final de cada dia, mas com os 10 palestrantes que virão diretamente da Holanda para o Path.
É claro que nem tudo é perfeito: ao olhar toda a programação no site do Festival, gera-se a falsa expectativa de que tudo aquilo será absorvido nos dois dias. A realidade é que o Festival Path é um evento de escolhas e, consequentemente, renúncias. É preciso respirar fundo quando uma atividade planejada está lotada e você precisa pensar num plano B. A dica da organização do Path é deixar fluir e aproveitar a gama de possibilidades, quem sabe não é no imprevisto que você ganha o melhor encontro do fim de semana?
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